quarta-feira, 22 de abril de 2009

Demônio verde

Ele ronda minha cintura
como que procurando
uma abertura, porém
com o umbigo cicatrizado
não lhe sobra muita opção.

_Espere, Maléfico,
ou procure outro buraco!

quarta-feira, 11 de março de 2009

Bailado

Entre tropeços coreográficos,
voltas e piruetas na caixa
craniana, percebo os passos
infantis da minha loucura.
Ela - aprendiz.

Seus passos estão melhorando,
em breve haverá baile.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Do eu afogado na lágrima seca

Quando criança sofri um acidente, nunca mais fui a mesma. O trauma no globo ocular impede-me de lavar os espelhos, fico inerte a dor, observando o pesar do corpo e alma. Sou chamada de louca.
E por quê não seria?
Com o tempo já nem me movia, somente as órbitas secas como binóculos a capturar imagens... e com mais tempo... nem isso.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Questão prima.

Carrego a culpa na bolsa escrotal e a arma pendida sobre ela.

Preencho o oco, mas o que me completa?

Segredo de família

Sob a trança desfiada os olhos profundos escondiam a profanação fraternal.

O corte

(foto Gustavo Kruel - Dor)

É impressionante a dor que sinto, tudo lateja, pulsa. Meus batimentos cardíacos ficaram alterados, a dor é aguda, suo frio, os olhos lacrimejam sem meu comando.

Seguro firme o corte querendo juntar as partes da carne cortada, como se quisesse estancar o sangue ou que ele não existisse. Confesso que meu primeiro intuito foi de lamber a ferida, até pus a língua pra fora, mas isso seria animalesco demais e não pegaria bem na frente do outros.


Tentei manter a pose, disfarçar a dor, as lágrimas e a cara de cão carente, afinal era só um corte.


Cortei meu dedo com papel.



sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Conservado

(imagem Google Search)


Em espíritos de vinho
conservo o coração daquele
que amei e me magoou.

Por vezes beberico dele.
Mais próximo o sinto.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Estampido

O viço cinzento espalhado,
o templo vázio, oco,
a vela acesa,
a prece interrompida.

Fora feita justiça!
No canto, a criança liberta.

Nunca mais sangrará
entre as pernas pela força.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Por entre os dedos

Com uma ferocidade impar, rasguei minha jugular com as unhas, e enquanto a vida esvaia-se literalmente pelos meus dedos, via que a fúria, ou a nóia, pela qual fiz isso também escorria.

A pedra no meio do caminho

E desfez-se a flor, o sol se pôs. E eu suada, escabelada, ainda te esperava sentada à pedra do caminho para a próxima cidade. As lágrimas chegaram a sulcar minha face quando olhava o horizonte e apenas via poeira.

Meu vestido azul e a valsa

Hoje banhar-me-ei com pétalas de rosas amarelas em uma imersão cheirosa, porei meu vestido mais bonito, aquele azul com strass bordados, uma sandália de salto, aberta e confortável. Servirei o meu melhor champanhe e brindarei em taças de cristal.
E ao cortar os pulsos, esperarei o Diabo para dançarmos uma valsa vianense.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Vício prime

(foto Daniel Oliveira - Addiction)

Dos muitos vícios a que fui acometida ao longo dos anos, o mais brutal e avassalador foi você.
Vício intenso que não consigo (nem quero) livrar-me.